Espaços urbanos

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Centro Histórico - foto Catiele Fortes

terça-feira, 1 de novembro de 2022

O curioso Alimento Fabini

A Charqueada do Paredão sempre causa muita curiosidade, especialmente porque de sua história, apesar da relevância, pouco ainda se sabe. Dos seus arquivos praticamente nada restou por aqui, sabendo-se dela o que a imprensa da época noticiava ou poucas publicações referiam. Sua importância para a economia cachoeirense foi imensa, mais uma razão para se lamentar o descaso com que tem sido tratado o que sobrou de seu complexo industrial.

Complexo da Charqueada (2018) - Méia Albuquerque


Charqueada do Paredão - sala de fabricação do Alimento Fabini
- Benjamin Camozato (1922)


O que restou da sala de fabricação (2021) - SMIC


Seção de pesagem e embalagem do Alimento Fabini
- Benjamin Camozato (1922)

Há 100 anos, por ocasião das comemorações do centenário da independência do Brasil, foi realizada uma grande exposição nacional no Rio de Janeiro, então capital federal, em que o melhor do país foi exposto. Cachoeira se fez presente com um dos mais afamados produtos da Charqueada do Paredão: o Alimento Fabini. Mas que alimento era este? Por que se chamava Fabini? Para a primeira pergunta há resposta, mas para a segunda ainda não.

Em 1.º de novembro de 1922, o jornal O Commercio reproduziu matéria publicada em jornal do Rio em que era destacada a qualidade do produto. Dali se extrai a resposta para a primeira pergunta:

O Alimento Fabini tem a forma de um granulado e na sua preparação é utilizada apenas a polpa de carne muscular de bovino, enriquecida no seu valor alimentício pela substituição em peso de sua parte aquosa pelo glúten de cereais escolhidos. Por um processo especial foi desagregada a fibra muscular da carne, o que garante ao produto o seu alto grau de digestão, fato assinalado em todas as análises. Essa circunstância foi particularmente posta em evidência pelos dietistas europeus, pois irá facilitar o aproveitamento da riqueza nutritiva da carne às pessoas que por terem vias digestivas delicadas não se possam alimentar de carne em seu estado natural. Para esses o Alimento Fabini representa um precioso recurso, pois permite a assimilação ao mais alto grau de todos os princípios nutritivos da carne, sem nenhum dos seus inconvenientes. Por esta mesma razão os pediatras têm encontrado no Alimento Fabini um recurso precioso para alimentação reconstituinte das crianças.

O Alimento Fabini é fabricado em Cachoeira, no Rio Grande do Sul, sob a direção médica do Dr. Balthazar de Bem. A fábrica, onde trabalham duzentos operários, é constituída por seis pavilhões e está sujeita à fiscalização sanitária do governo federal.

A firma Aredio & Companhia, do Rio de Janeiro, São Paulo e Buenos Aires são os distribuidores gerais do Alimento Fabini.

O Alimento Fabini, pelas notícias disponíveis, começou a ser comercializado em 1922. Nessa época, depois de enfrentar dificuldades, a Charqueada do Paredão passou a ser conduzida por uma sociedade comanditária, tendo à frente o médico Balthazar de Bem. Por foto estampada no Grande Álbum de Cachoeira no Centenário da Independência do Brasil (1922), de Benjamin Camozato, a denominação da empresa passou a ser Alimento Fabini, então o carro-chefe da indústria.

Entrada da fábrica do Alimento Fabini - Benjamin Camozato (1922)

Outra curiosidade a respeito da fabricação do Fabini é o fato de que a seção correspondente era composta por operárias, notando-se o esmero com que aparecem nas fotos feitas por Benjamin Camozato, onde é possível verificar que usavam uniforme e protetores na cabeça.

É, pois, o Alimento Fabini, em momento quase final da história de sucesso da Charqueada do Paredão, mais uma página curiosa desse importante empreendimento local.


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