Um dos primeiros cinemas de Cachoeira, o Familiar, foi fundado em 1910 pelos irmãos Renoardo e Albino Pohlmann. Sua localização era a Praça José Bonifácio, com frente voltada para a Rua 7 de Setembro, trecho conhecido como Avenida das Paineiras. No dia 10 de outubro daquele ano, ocorreu a primeira sessão, consagrando o local como ponto de encontro dos cachoeirenses em época de poucas atividades de entretenimento.
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| Movimento em frente ao Cinema Familiar - foto Renoardo Pohlmann - MMEL |
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| Fachada do Cinema Familiar fotografada por Renoardo Pohlmann e colorizada com IA - Renato Thomsen |
Em 1912, Albino Pohlmann retirou-se da sociedade, ingressando Felipe Moser em seu lugar, girando a razão social como Pohlmann & Moser. E, naquele ano, o Cinema Familiar deve ter experimentado um de seus maiores sucessos, a exibição da tragédia Romeu e Julieta, clássico de William Shakespeare, exibição que atraiu centenas de pessoas para as sessões. O jornal O Commercio, na sua edição do dia 28 de agosto de 1912, primeira página, deu grande destaque à atração:
"A tragédia de amor - Romeu e Julieta - levou, à noite de domingo último, um extraordinário número de espectadores ao recinto deste agradável centro de diversões, da empresa Pohlmann & Moser. Não obstante estar muito ampliado, depois das últimas reformas, podendo conter mais de 700 pessoas, o Familiar tornou-se pequeno para a onda de povo que o invadiu a fim de apreciar a grandiosa tragédia de Shakespeare, arquitetada sobre um fato histórico. O longo argumento, ocupando quase duas páginas do programa, intercalado de primorosos versos do imaginoso e ardente poeta Olavo Bilac, dava uma ideia do emocionante enredo da bela peça, rigorosamente encenada com os trajes daquela época pela acreditada casa Pathé Frères*. E a exibição da longa fita colorida, dividida em duas partes e de 1.000 metros de extensão, correspondeu plenamente à expectativa, tal o consciencioso desempenho que deram-lhe os artistas contratados pela fábrica. As outras fitas exibidas foram: Exéquias das vítimas da grande catástrofe do couraçado Liberté, natural; D. Babilau gosta de animais e Little Moritz faz-se musculoso, cômicas; Romance do ladrão de caça, dramática. Amanhã, quinta-feira, haverá espetáculo com atraente programa, sendo, a pedido geral, repetida a grandiosa fita Romeu e Julieta, digna de ser apreciada."
É provável que a versão exibida no Cinema Familiar tenha sido o curta-metragem mudo, produzido na Itália em 1908, e estrelado por Florence Lawrence. O original está disponível no YouTube e pode ser acessado pelo link https://www.youtube.com/watch?v=teJyp1EQJZw#
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| Florence Lawrence, a Julieta de 1908 - Wikipédia |
A outra versão possível, estrelada por George Lessey e Julia M. Taylor, com direção de Barry O'Neil, foi lançada no ano de 1911.
*Pathé Frères: sociedade francesa de cinema que produzia e negociava filmes, fundada pelos irmãos Pathé em 1896. No começo do século XX, entrou na indústria fonográfica também.



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