Espaços urbanos

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Ponte do Fandango - foto Robispierre Giuliani

sábado, 18 de junho de 2016

Mosaicos, beldosas e ladrilhos hidráulicos “made in Cachoeira”

Na segunda metade do século XIX surgiu na Europa um novo tipo de revestimento feito à base de cimento para pisos e paredes: os ladrilhos hidráulicos, também conhecidos por mosaicos ou beldosas. Este revestimento veio com a proposta de substituir o mármore, bastante dispendioso, oferecendo variada gama decorativa que ia desde as formas geométricas até elaborados desenhos de flores, folhas e arabescos. Muitos dos desenhos também apresentavam forma de composição com outros, permitindo que fossem criadas molduras ou diferentes combinações através do uso planejado das peças, o que sofisticava a produção e a instalação.

Ladrilho hidráulico localizado no prédio do Paço Municipal,
atestando intervenções pontuais em diferentes épocas
- foto Renato F. Thomsen
Ladrilhos e madeira preservados no restauro do Paço Municipal
- foto Renato F. Thomsen

A partir de 1921, quando Cachoeira civilizadamente deu seus primeiros passos para o saneamento da cidade, com distribuição de água e paulatinamente a instalação de rede de esgotos, os ladrilhos hidráulicos começaram a despontar como alternativas para as instalações sanitárias que surgiam. E desde 1918 o jornal O Commercio noticiava o estabelecimento de Fernando Rodrigues, a Fábrica de Beldosas – Mosaicos, produtora de granito à veneziana, piletas para cozinhas, soleiras, degraus, balcões, balaústres para janelas, platibandas e o mais concernente ao ramo. Seu endereço então era a Rua Saldanha Marinho nº 70.

Em 1925, quando Cachoeira estava tomada de obras de ampliação do serviço de água, com a construção da segunda hidráulica, composta pelas instalações de captação junto ao rio Jacuí e pelos reservatórios elevado (Château d’Eau) e enterrado (R2, na atual Praça Borges de Medeiros), Fernando Rodrigues havia transferido sua fábrica para a Rua 15 de Novembro, esquina com a Rua Major Ouriques. Naquela época oferecia mosaicos já colocados nas calçadas ao preço de 15.000 réis o metro quadrado, propagandeando que este valor era inferior ao da colocação de laje. Deve ter sido eficiente nesta divulgação porque boa parte das construções de Cachoeira que remontam à década de 1920 possui ladrilhos em profusão. 

Ladrilhos da Casa Kanan - demolida - atual Registro de Imóveis
- foto Eduardo Minssen

Haguel Botomé, o proprietário da famosa Casa da Bandeira Branca, vizinho do fabricante Fernando Rodrigues, foi um dos que comprovadamente serviu-se do produto da Fábrica de Mosaicos – Beldosas e mandou arrancar as lajes e tijolos das calçadas circundantes do seu estabelecimento, substituindo-os pelos mosaicos fabricados em Cachoeira. E bom marqueteiro que era de seu negócio, encomendou a Fernando Rodrigues o famoso letreiro CASA DA BANDEIRA BRANCA, escrito em letras vermelhas sobre fundo branco. Os pedestres não ficavam indiferentes ao que liam quando cruzavam a calçada da Rua 15, esquina General Osório... Pena que os letreiros desapareceram, levando com eles um pedaço da história de empreendedorismo da Cachoeira de outrora...

Letreiros "Bandeira Branca" - Google Maps
- Colaboração: seguidor Paulo Brendler

Os ladrilhos foram sendo substituídos por peças mais modernas e eficientes, começando a decair na década de 1960. Da fábrica de Fernando Rodrigues não há maiores notícias, tampouco se sabe até quando forneceu seus produtos. O fato é que Cachoeira do Sul é uma cidade que muito se serviu dos ladrilhos, revestimento usado em profusão nas calçadas das ruas principais, tendo inclusive o direito de denominar o padrão utilizado com o nome "Cachoeira". 


Rua 7 de Setembro e as calçadas no padrão "Cachoeira"
- foto Claiton Nazar

Hoje os ladrilhos hidráulicos são bastante valorizados por colecionadores, designers e decoradores, havendo inclusive “cemitérios” destas peças em grandes cidades para comercialização, com ampla aceitação.

Um comentário:

  1. Parabéns pela bela pesquisa, Mirian. Cachoeira tem seu lado "oculto", que aos poucos se revela e o teu trabalho é parte fundamental do processo.

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