A inauguração do Teatro
Municipal, no Natal de 1900, foi um acontecimento. A cidade celebrava a
conquista de recuperar um espaço para as apresentações artísticas, já que a
demolição do primitivo Teatro Cachoeirense tinha limitado – e muito – as atrações
que necessitavam da infraestrutura de uma casa de espetáculos.
Teatro Municipal visto pela lateral - Fototeca Museu Municipal |
Anúncio do extinto Teatro Cachoeirense - jornal O Clarim, 22/5/1887 - Acervo de Imprensa do Arquivo Histórico |
Na virada dos anos 1800
para 1900, graças aos trens, várias companhias dos mais diversos tipos de arte
e novidades percorriam o trajeto entre a região do Prata e Porto Alegre
apresentando-se nas cidades que ficavam no caminho. Cachoeira era uma delas, mas
a inexistência de um espaço apropriado muitas vezes desestimulava a estada dos
artistas na cidade ou tirava o brilho das companhias que mesmo assim aqui se
aventuravam.
Com a inauguração do
imponente prédio do teatro, a imprensa da época registrava todo tipo de atrações
que apareciam. Cinematógrafos, ventríloquos, clowns, coisas bizarras, máquinas
de falar, concertos musicais, operetas, comédias, tragédias, conferências, declamações...
Descrições das horas de arte ocupavam colunas dos jornais, bem como a
desconfiança de muitos com a solidez do prédio recém-inaugurado...
Teatro Municipal - Fototeca Museu Municipal |
Incomodado com o
diz-que-diz-que que tomava conta de algumas rodas, o jornal O Commercio, edição do dia 5 de novembro
de 1902, publicou o seguinte:
“Avessos a tudo que se
propala sem espírito de moral e de razão, principalmente quando vimos que no
boato há um mau velado intuito de ferir suscetibilidades, não podemos deixar de
condenar acremente como diretores da opinião o que se tem dito e se diz com
relação à solidez do Teatro Municipal. Os anônimos que por aí pululam e cujo
único ofício é maldizer dos que trabalham e se interessam pelo progresso de sua
terra estão, não resta dúvida, se fotografando como imbecis e ignorantes que
são, pretendendo incutir no ânimo da população cachoeirense uma prevenção
maligna, para assim afastá-la de comparecer às representações que ali se
efetuam presentemente, prejudicando artistas e companhias dignos da proteção do
público e os créditos incontestáveis do honrado e operoso intendente municipal
que dirigiu a construção do elegante edifício, cuja solidez foi e é atestada
por competentes. Por hoje ficamos aqui, lembrando ao digno Sr. Coronel
Intendente uma vistoria no Teatro por profissionais, que aqui os há, a fim de que
mais uma vez sejam confundidos os maldizentes.”
Intendente David Soares de Barcellos - empreendeu a construção do Teatro Municipal |
Como se vê, menos de dois anos depois da inauguração, o prédio provocava desconfianças...
O desfecho de tal história
poderia ter sido trágico. Em 6 de janeiro de 1908, o teatro sediou uma festa
infantil em benefício do altar do Sagrado Coração de Jesus, da Igreja Matriz,
ocasião em que a grande assistência teria ouvido estalos suspeitos. Felizmente
o espetáculo findou sem ocorrências.
Quando dias depois a cidade
foi acordada com um grande estrondo, por volta das 11 horas da noite, muitas
vozes concluíram: “Foi o Teatro que caiu!”
O administrador municipal
mandou interditar o prédio e convidou o engenheiro civil Arlindo Leal a dar um
laudo sobre o sinistro. Outros técnicos abalizados do estado, devidamente
consultados, como o Dr. Ahrons, A. Legendre e Theodoro Tufwesson, apresentaram
um relatório pormenorizado dos problemas constatados. Em síntese, constataram o
desequilíbrio dos muros do corpo posterior do edifício, a ruptura completa da
linha de atracar de uma das tesouras da armação e o escapamento da junta
central (em dardo de Júpiter) da linha de outra tesoura. Com o desequilíbrio das tesouras houve forte pressão
sobre as paredes laterais do edifício, forçando-o a sair do prumo.
Soluções e orçamentos foram
apresentados, mas a história documenta que não houve ações efetivas para
recuperar aquele espaço de arte. Cinco anos depois, como a livrar-se de um elefante
branco, a administração municipal repassou o prédio do Teatro Municipal para o
governo do estado para que nele fossem instalados o Colégio Elementar e o
Fórum.
As obras de adaptação do edifício não foram
céleres e, depois de idas e vindas, a imprensa noticiava que até o final de
1915, com a retirada do madeiramento e a demolição dos camarotes, paredes
divisórias internas seriam levantadas para atendimento dos fins propostos.
Edifício do Teatro adaptado para o Colégio Elementar e Fórum - 1922 - O Rio Grande do Sul, de Alfredo R. da Costa |
Mais três décadas seriam
necessárias para que a cidade novamente se reencontrasse com uma casa de espetáculos,
em fevereiro de 1938, quando o Cine-Teatro Coliseu abriu suas portas. Mas esta
já é outra história, cujo destino não foge muito do triste fim que teve o
Teatro Municipal.
Cine-Teatro Coliseu - 1938 - Fototeca Museu Municipal |
Ainda bem que os conceitos de modernidade incluem a preservação como temática artística e cultural.....que as ondas modernizantes dos acrílicos, dos vidros espelhados e "curvas retificadas" não impeçam a preservação do que Cachoeira do Sul tem como tesouro histórico e patrimonial...... novamente parabéns pela iniciativa
ResponderExcluirObrigada, nosso eterno comandante. Estamos na luta. Ela é árdua, ela é incompreendida por muitos, mas temos certeza de que um dia alguns saberão reconhecer a sua importância. Abraço.
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