As edificações de uma cidade são testemunhas do tempo e carregam com elas, dentre outras coisas, a estética de sua época. Algumas podem desaparecer sem causar sustos ou lamentos. Outras, ao se desfazerem, levam embora não somente um marco urbano, mas principalmente a força identitária do ambiente em que estavam inseridas. Quando isto acontece, a cidade deixa de ser reconhecida em si mesma e as pessoas que nela vivem ou viveram perdem seu vínculo de pertencimento.
Não fossem as instâncias de proteção criadas pela sociedade para garantir o futuro do passado, de um ano para outro a cidade mudaria tanto que os moradores não conseguiriam vincular-se mais com ela ou se reconhecerem como pertencentes àquele lugar. Mas nem tudo pode ser protegido e não há consciência plena da importância de manter a memória. Diante disto, infelizmente as surpresas desagradáveis nos atingem quando vemos tombar literalmente um ícone urbano.
Na esquina das ruas Saldanha Marinho e Presidente Vargas, está indo ao chão o antigo posto de combustíveis mandado construir por Theobaldo Carlos Burmeister em 1940. Em estilo art-déco, o posto guardava em sua arquitetura características que o distinguiam, marcado por estruturas curvilíneas e letreiros identificativos dos serviços que oferecia. Para completar o conjunto, o prédio que o ladeava guardava o mesmo estilo, conferindo à esquina uma elegância rara.
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Trecho da Rua Saldanha Marinho, vendo-se o posto à esquerda
- Coleção Ignez Kowacs |
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Edifício e parte do posto de Theobaldo Burmeister em 1941
- Fotograma do filme da Festa do Arroz
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Posto T. C. Burmeister em 1949 - Coleção Elinca Fontanari |
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Posto de combustíveis - acervo Renato F. Thomsen |
A inauguração do posto ocorreu no dia 12 de outubro de 1940, com a presença de autoridades e representantes do comércio, indústria e imprensa. Com capacidade para abastecer de combustíveis e lubrificantes até quatro carros, tinha amplas entradas para as duas vias da esquina e uma oficina para pequenos consertos. O funcionamento, à época, também se estendia a qualquer hora da noite. Para marcar a inauguração, Theobaldo Burmeister ofereceu um suculento churrasco aos convidados.
O posto de combustíveis manteve sua função por 79 anos. Trocou de proprietário, mas conservou o charme que sua arquitetura e localização lhe conferiam. Agora, erguem-se sobre ele estruturas de outro prédio que apagará, lenta e dolorosamente, a memória de uma esquina que em outros lugares do mundo jamais seria destruída.
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Fotografias da demolição - Renato F. Thomsen |
Nada me alegra mais que ver essas construções antiguíssimas de Cachoeira do Sul indo ao chão. Desenvolvimento e visão do novo, saudação aos empresários e investidores que acreditam nesta meticulosa cidade.
ResponderExcluirViva a antiguidade, pro inferno a modernidade
ResponderExcluirConstruções antigas como coliseu, cine astral, câmara de vereadores, Banrisul, igreja matriz, chât'eau d'eau, entre dezenas de outras, mantém o charme e a cidade viva, construções novas estragam a história da cidade, fora com a modernidade podre, fadada ao fracasso, e saudamos a antiguidade.!!!
ResponderExcluirTemos que valorizar o que nos dignifica e diferencia das demais cidades. Estes prédios e espaços urbanos que citaste são marcas da nossa história e, portanto, indispensáveis para a manutenção da nossa identidade.
ExcluirQue tristeza! Cachoeira ainda não aprendeu a preservar a sua história.
ResponderExcluirGrande perda, mais uma entre tantas, pobres gentes que não valorizam o passado.
ResponderExcluirDifícil a luta da preservação da memória. Mas sigamos firmes na defesa da nossa identidade!
ExcluirMirian!!!!!!!!!! Na minha infância, morei no apartamento do Sr. Jaime Burmeister, filho de Theobaldo, no apartamento no último andar, embaixo morava a família de Jaime e no térreo era o Bar Aquarius. Na década de 70. Este apartamento amplo, confortável, imenso, morei com meus pais. Ótimo tempo, saudades deste lugar.Jaque.
ResponderExcluirUma ocasião visitei uma amiga que morava no prédio. Fiquei impressionada com a amplidão e a luminosidade do apartamento. Mas o prédio, felizmente, segue lá.
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