Espaços urbanos

Espaços urbanos
Temporal no Centro Histórico - foto Francisco Nöller

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Triste desaparecimento de um ícone urbano

As edificações de uma cidade são testemunhas do tempo e carregam com elas, dentre outras coisas, a estética de sua época. Algumas podem desaparecer sem causar sustos ou lamentos. Outras, ao se desfazerem, levam embora não somente um marco urbano, mas principalmente a força identitária do ambiente em que estavam inseridas. Quando isto acontece, a cidade deixa de ser reconhecida em si mesma e as pessoas que nela vivem ou viveram perdem seu vínculo de pertencimento. 

Não fossem as instâncias de proteção criadas pela sociedade para garantir o futuro do passado, de um ano para outro a cidade mudaria tanto que os moradores não conseguiriam vincular-se mais com ela ou se reconhecerem como pertencentes àquele lugar. Mas nem tudo pode ser protegido e não há consciência plena da importância de manter a memória. Diante disto, infelizmente as surpresas desagradáveis nos atingem quando vemos tombar literalmente um ícone urbano.

Na esquina das ruas Saldanha Marinho e Presidente Vargas, está indo ao chão o antigo posto de combustíveis mandado construir por Theobaldo Carlos Burmeister em 1940. Em estilo art-déco, o posto guardava em sua arquitetura características que o distinguiam, marcado por estruturas curvilíneas e letreiros identificativos dos serviços que oferecia. Para completar o conjunto, o prédio que o ladeava guardava o mesmo estilo, conferindo à esquina uma elegância rara.


Trecho da Rua Saldanha Marinho, vendo-se o posto à esquerda
- Coleção Ignez Kowacs


Edifício e parte do posto de Theobaldo Burmeister em 1941
- Fotograma do filme da Festa do Arroz

Posto T. C. Burmeister em 1949 - Coleção Elinca Fontanari

Posto de combustíveis - acervo Renato F. Thomsen

A inauguração do posto ocorreu no dia 12 de outubro de 1940, com a presença de autoridades e representantes do comércio, indústria e imprensa. Com capacidade para abastecer de combustíveis e lubrificantes até quatro carros, tinha amplas entradas para as duas vias da esquina e uma oficina para pequenos consertos. O funcionamento, à época, também se estendia a qualquer hora da noite. Para marcar a inauguração, Theobaldo Burmeister ofereceu um suculento churrasco aos convidados.

O posto de combustíveis manteve sua função por 79 anos. Trocou de proprietário, mas conservou o charme que sua arquitetura e localização lhe conferiam. Agora, erguem-se sobre ele estruturas de outro prédio que apagará, lenta e dolorosamente, a memória de uma esquina que em outros lugares do mundo jamais seria destruída.






Fotografias da demolição - Renato F. Thomsen

9 comentários:

  1. Nada me alegra mais que ver essas construções antiguíssimas de Cachoeira do Sul indo ao chão. Desenvolvimento e visão do novo, saudação aos empresários e investidores que acreditam nesta meticulosa cidade.

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  2. Viva a antiguidade, pro inferno a modernidade

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  3. Construções antigas como coliseu, cine astral, câmara de vereadores, Banrisul, igreja matriz, chât'eau d'eau, entre dezenas de outras, mantém o charme e a cidade viva, construções novas estragam a história da cidade, fora com a modernidade podre, fadada ao fracasso, e saudamos a antiguidade.!!!

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    1. Temos que valorizar o que nos dignifica e diferencia das demais cidades. Estes prédios e espaços urbanos que citaste são marcas da nossa história e, portanto, indispensáveis para a manutenção da nossa identidade.

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  4. Que tristeza! Cachoeira ainda não aprendeu a preservar a sua história.

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  5. Grande perda, mais uma entre tantas, pobres gentes que não valorizam o passado.

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    1. Difícil a luta da preservação da memória. Mas sigamos firmes na defesa da nossa identidade!

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  6. Mirian!!!!!!!!!! Na minha infância, morei no apartamento do Sr. Jaime Burmeister, filho de Theobaldo, no apartamento no último andar, embaixo morava a família de Jaime e no térreo era o Bar Aquarius. Na década de 70. Este apartamento amplo, confortável, imenso, morei com meus pais. Ótimo tempo, saudades deste lugar.Jaque.

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    1. Uma ocasião visitei uma amiga que morava no prédio. Fiquei impressionada com a amplidão e a luminosidade do apartamento. Mas o prédio, felizmente, segue lá.

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