Interessante pensar que às portas de seu bicentenário como município, Cachoeira está enfrentando novamente uma pandemia a exemplo da que viveu em 1920, ano de seu primeiro centenário. Era a pandemia da gripe espanhola. De janeiro de 1918, quando surgiram os primeiros casos, até dezembro de 1920, a gripe atingiu um quarto da população mundial, trazendo horror ao Brasil e também a Cachoeira.
Enfermaria com infectados pela gripe espanhola no Rio de Janeiro - www.migalhas.com.br |
Como hoje, as medidas daquela época reduziram a circulação das pessoas e fizeram sérias restrições ao comércio, aos encontros sociais e aos cultos religiosos. As pessoas circulavam com máscaras, recurso recomendado para não propagação do vírus.
Mulheres usando máscaras - www.osdivergentes.com.br |
Em Cachoeira, logo que os primeiros casos começaram a ser conhecidos, o intendente Francisco Gama tomou medidas de ordem sanitária, com recomendações de que a população mantivesse limpas as casas e os quintais.
Por determinação do estado, os colégios foram fechados e os doentes pobres deviam receber medicamentos gratuitamente. O Hospital de Caridade colocou todos os seus leitos a serviço dos doentes da gripe, o que não foi suficiente para a demanda. Os médicos se revezavam nos atendimentos domiciliares, havendo registros de grande acúmulo de pacientes para Milan Kras, Sílvio Scopel, Marajó de Barros, Augusto Priebe e Balthazar de Bem. A correria era tanta para estes profissionais que eles praticamente aboliram o uso de casacos e chapéus, pois vesti-los era perda de tempo diante do número de infectados a serem atendidos. O padre Luiz Scortegagna, vigário da Igreja Matriz, chegou a oferecer o salão do Império do Divino Espírito Santo para servir de hospital, o que não chegou a ser feito.
Por determinação do estado, os colégios foram fechados e os doentes pobres deviam receber medicamentos gratuitamente. O Hospital de Caridade colocou todos os seus leitos a serviço dos doentes da gripe, o que não foi suficiente para a demanda. Os médicos se revezavam nos atendimentos domiciliares, havendo registros de grande acúmulo de pacientes para Milan Kras, Sílvio Scopel, Marajó de Barros, Augusto Priebe e Balthazar de Bem. A correria era tanta para estes profissionais que eles praticamente aboliram o uso de casacos e chapéus, pois vesti-los era perda de tempo diante do número de infectados a serem atendidos. O padre Luiz Scortegagna, vigário da Igreja Matriz, chegou a oferecer o salão do Império do Divino Espírito Santo para servir de hospital, o que não chegou a ser feito.
Médicos Augusto Priebe (em cima), Sílvio Scopel, Balthazar de Bem e Milan Kras |
Dentre os que contraíram a espanhola, estavam Cyro da Cunha Carlos e sua esposa Zoé, o dentista e fotógrafo Benjamin Camozato e João Antônio Möller, da redação do jornal O Commercio. Destes, foi vítima fatal a esposa de Cyro, de 25 anos. O casal havia celebrado o casamento poucos meses antes da morte dela.
Cyro da Cunha Carlos, um dos infectados e sobreviventes da gripe espanhola (foi prefeito de Cachoeira entre 1939 e 1946) |
Com o passar do tempo, a escassez de medicamentos foi se tornando um drama para o corpo médico local que, no final de 1918, havia atendido cerca de 700 doentes, contando 29 óbitos e 3.000 pessoas contagiadas. Na zona colonial, restava o uso de chás de sabugueiro, aipo e laranjeira, uma vez que os médicos mal conseguiam dar conta dos atendimentos na cidade.
O ano de 1919 trouxe o recrudescimento da gripe espanhola em Cachoeira, como de resto em todo o país. Em 1920, os casos tinham praticamente desaparecido. Mas por um longo tempo, quando o assunto era epidemia, o horror da espanhola era relembrado, com suas vítimas e consequências funestas na economia e na vida das pessoas.
Assim como a gripe espanhola foi uma variação do vírus influenza, agora em 2020 o velho e conhecido coronavírus se apresenta com a Covid-19 (do inglês Coronavirus Disease 2019), nome atribuído à nova moléstia por ele causada. Decreto de pandemia pela Organização Mundial de Saúde, baixas significativas em vários países e medidas restritivas de toda ordem têm posto o mundo inteiro em situação de emergência e de isolamento social. Quais serão as consequências disto tudo? O tempo dirá.
A História é uma senhora de respeito, mas mantém o velho hábito de se repetir.
Em relatório enviado ao Dr. Borges de Medeiros, presidente do estado, o Dr. Balthazar de Bem referiu que havia muitas pessoas circulando pelas ruas de Cachoeira com a fisionomia emagrecida, denotando um estado de fraqueza que predispunha o organismo à instalação de outras moléstias, como a tuberculose, constituindo-se em causa de séria preocupação às autoridades.
Foi durante a pandemia da gripe espanhola que as irmãs enfermeiras, da Congregação de Santa Catarina, foram trazidas para o hospital de Cachoeira, tendo sido importantíssimas como reforço profissional ao tratamento dos infectados.O ano de 1919 trouxe o recrudescimento da gripe espanhola em Cachoeira, como de resto em todo o país. Em 1920, os casos tinham praticamente desaparecido. Mas por um longo tempo, quando o assunto era epidemia, o horror da espanhola era relembrado, com suas vítimas e consequências funestas na economia e na vida das pessoas.
Assim como a gripe espanhola foi uma variação do vírus influenza, agora em 2020 o velho e conhecido coronavírus se apresenta com a Covid-19 (do inglês Coronavirus Disease 2019), nome atribuído à nova moléstia por ele causada. Decreto de pandemia pela Organização Mundial de Saúde, baixas significativas em vários países e medidas restritivas de toda ordem têm posto o mundo inteiro em situação de emergência e de isolamento social. Quais serão as consequências disto tudo? O tempo dirá.
A História é uma senhora de respeito, mas mantém o velho hábito de se repetir.
Muito interessante...
ResponderExcluirImportante lembrar
ResponderExcluirComo faco pra compartilhar em minnha pag🙏🙏🙏
ResponderExcluirAo pé da postagem estão os ícones dos canais disponíveis para isto. É só escolher e clicar. Outra opção é copiar o link da postagem e colar na tua página.
ResponderExcluirNa forma habitual, didática e lúcida, muito obrigado !
ResponderExcluirTenho mesmo refletido nas repetidas lições que a história nos traz como destaca a sua crônica. Excelente crónica que me emocionou em especial pois sou bisneta de Francisco Gama, neta de sua filha Silvia. Abs
ResponderExcluirComo nao achei outro lugar, gostaria de usar este espaço para parabenizar pelo excelente blog que motivou, no mínimo, 3 horas de leitura corrida, as mais fascinantes. Espero poder ler mais e mais, aguardo ansiosa. Obrigada!!
ResponderExcluirMuito obrigada! A proposta do blog é justamente esta: despertar o interesse das pessoas para a nossa rica história. Gostaria de saber o seu nome. Abraço.
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