A
primeira referência à instalação de um hospital em Cachoeira foi feita ainda no
tempo da Vila Nova de São João da Cachoeira pelo vereador e também médico Dr.
José Pereira da Silva Goulart. Sua proposta foi apresentada na sessão do dia 15
de outubro de 1846, e atendia ao disposto na Lei de 1.º de outubro de 1828, que
estabelecia que as vilas providenciassem na criação de casas de caridade para
dar assistência aos expostos* e aos doentes pobres. A instituição deveria se
chamar Hospital de São João, mas não obteve aprovação dos demais vereadores,
sendo arquivada.
Dr. José Pereira da Silva Goulart - Acervo Família Vieira da Cunha |
Quase
vinte anos depois, quando o Imperador Pedro II visitou Cachoeira pela segunda
vez, uma das coisas que chamou sua atenção na cidade foi a excelência do
trabalho prestado pelo médico pernambucano Cristóvão José Vieira a 26 doentes
distribuídos por “duas casas más, porém bem providas de tudo, leitos, colchões,
cobertores, medicamentos, pratos de metal, talheres, etc.” Em razão disso, o
Imperador sugeriu à Câmara que usasse o recém-aprontado prédio da Casa de
Câmara, Júri e Cadeia como hospital, sendo transportados os doentes para lá
quando “um dia mais quente permita expô-los ao ar”.
Antiga Casa de Câmara, Júri e Cadeia - Foto Mirian Ritzel |
O cirurgião-mor
Cristóvão José Vieira foi reconhecido pelo Imperador que o nomeou diretor-chefe
de todos os hospitais existentes ou a serem criados de Porto Alegre até a
fronteira. Mas o Dr. Vieira não se afastou de Cachoeira enquanto não achou quem
o substituísse.
O sobrado da Casa de Câmara, Júri e Cadeia foi empregado como
hospital militar para atendimento especialmente aos praças do Exército envolvidos com a Guerra do Paraguai, quase todos vitimados não pela guerra, mas pelas condições adversas
do clima sulino. O uso não foi muito longo, eis que em novembro de 1865 os
vereadores requisitaram ao Ministro da Guerra a devolução do prédio por estar
ele sendo ocupado apenas por quatro doentes quase curados, o que foi feito.
Um
intervalo de 38 anos separou a solicitação do Imperador da outra iniciativa
para dotar a cidade finalmente de um hospital, ou asilo de caridade. Em 1903 o
advogado Ernesto Barros publicou no jornal O
Commercio um artigo intitulado “Apelo aos corações generosos”, em que
conclamava a comunidade a unir esforços para a construção de um prédio que
servisse de hospital. A recepção à ideia foi tamanha que em 23 de agosto
daquele ano foi lançada a pedra fundamental do nosso primeiro hospital.
Dr. Ernesto Barros |
A
partir desse ato, muitas campanhas foram deflagradas junto à comunidade e
muitos e de todos os tipos foram os auxílios. A obra coube ao construtor português
Manoel Gomes Pereira que ergueu um sobrado de 52 palmos de frente por 103 de
fundos. A inauguração ocorreu em 11 de dezembro de 1910.
O
prédio do nosso primeiro hospital é tombado como patrimônio histórico do
município e abriga hoje a Escola de Educação Profissional de Saúde do Hospital
de Caridade. Dela já saíram muitos profissionais que estão distribuídos pelos
mais diversos lugares do estado e até mesmo fora dele, honrando o
profissionalismo demonstrado pelo quase desconhecido e esquecido cirurgião-mor
Cristóvão José Vieira.
Escola Profissional de Saúde do HCB - Foto COMPAHC |
Muito interessante a luta pelo nosso Hospital.
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