Espaços urbanos

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Ponte do Fandango - foto Robispierre Giuliani

segunda-feira, 8 de março de 2021

Dona Alzira

Alta, magra, voz grossa e o costume de pigarrear. Rosto oblongo e grande, com olhos amiudados pelos óculos de lentes grossas para correção da miopia. Cabelos alvos e ondulados. Arguta em perceber qualquer deslize no uso da língua portuguesa. Essa era a descrição da professora Alzira da Cunha Carlos que há 125 anos iniciou, no Barro Vermelho, suas atividades docentes.


Alzira da Cunha Carlos - Museu Municipal


Impossível contar a história da educação em Cachoeira sem dedicar uma página especial à professora Alzira. Bageense, ela nasceu em 8 de maio de 1877, filha do republicano histórico João Batista Carlos e de sua mulher Faustina da Cunha Carlos. Seu diploma de professora pela Escola Normal de Porto Alegre foi assinado pelo diretor Manoel Pacheco Prates em 11 de dezembro de 1895. Antes dela, que se tenha notícia, apenas a professora Cândida Fortes Brandão, formada em 1885, possuía o tão raro diploma!


Família Carlos (cerca de 1903) - Acervo familiar

Além de ter ensinado as primeiras letras para irmãos e sobrinhos, Alzira formou algumas gerações de cachoeirenses a partir de 1902, quando abriu com as irmãs Hilda e Amanda sua escola particular, que funcionava na Rua Saldanha Marinho, defronte ao Colégio Marista. A casa era ao mesmo tempo escola e residência. Amanda era quem comandava a casa e Alzira a "chefe" da família e diretora da escola.

Na escola, além do currículo formal, eram lecionadas outras disciplinas, como francês, música, bordado e pintura. Alzira encarregava-se do ensino de português e conhecimentos gerais; Hilda lecionava matemática e Amanda ensinava boas maneiras. Caminhar com um livro na cabeça para correção da postura, onde colocar as mãos, como aceitar um copo d'água ou um doce e que tipo de conversas manter eram lições aprendidas com Amanda.

Aliás, não só de relevo eram os ensinamentos das irmãs Carlos, mas também famosos eram os trabalhos manuais executados por elas! Além das funções docentes, a confecção de enxovais para bebês e noivas eram especialidades das irmãs.

Pela imprensa é possível perceber o reconhecimento ao trabalho da professora Alzira, assim como notória era sua participação em diferentes momentos da comunidade. Em 1904 eis que Alzira da Cunha Carlos consta como secretária da diretoria da Sociedade Recreio, agremiação formada por senhoras e senhoritas, bem como inúmeras vezes foi madrinha de casamentos. 

Como viveu muito - faleceu em 7 de maio de 1976, às vésperas de completar 99 anos - Alzira foi sempre muito celebrada por seus alunos, tendo recebido ao longo da vida muitas homenagens e reconhecidas lembranças. Uma das mais importantes distinções foi a denominação patronímica da Seção Infantil da Biblioteca Pública Municipal "Dr. João Minssen", verdadeiro celeiro de novos leitores.

Falar em Alzira da Cunha Carlos, abalizada e reconhecida educadora, é oportuna forma de homenagear todas as mulheres que lançaram mão de seus talentos e formação para contribuírem com o melhoramento da comunidade cachoeirense, permitindo que outras mulheres e homens também tivessem a oportunidade de se reconhecerem como agentes de transformação do mundo.

Colaboraram com informações: Ione M. Sanmartin Carlos, Dione A. Carlos Dias e Ione Carlos Hentges.

10 comentários:

  1. Maravilhoso termos uma história para contar

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  2. Mas bah! eu ia dizer que era parecida com a Ione e acho que eram parentes!!!! Que legal! Rosto oblongo! Quero um rosto assim...

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  3. Me encantam por sua dedicação, tanto a professora Alzira como a Miriam pela dedicação e prazer como se doam para nos trazer curiosos conhecimentos, muito obrigada. Parabéns pelo dia da mulher. Um abraço

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  4. É lindo conhecer história de quem veio antes...como estamos desconectados desta tradição...e quanta luz e amor traz aos que vieram depois. Gratidão por seu trabalho Miriam...que possamos nos inspirar e conhecer mais nossos sistemas familiares.

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  5. História maravilhosa de uma mulher que marcou sua existência através da educação. 📚❤️

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  6. Mirian, estou adorando reviver a História aqui contigo. Estou pesquisando os costumes do final do século XIX em Cachoeira do Sul para, se possível, escrever um romance. Obrigada pela pesquisa.

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