Espaços urbanos

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Ponte do Fandango - foto Robispierre Giuliani

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Vestígios da morte

Na Cachoeira de tantas histórias também há espaço para acontecimentos bizarros. Um deles, ocorrido no final dos anos de 1950, deixou indignados os moradores do Bairro Barcelos que, da noite para o dia, por conta de uma obra empreendida pela Prefeitura Municipal, se viram cercados de vestígios da morte...

Vista aérea de Cachoeira do Sul, tendo o Bairro Barcelos ao fundo (esquerda)
- MMEL

Relativo ao ocorrido, vejamos o que registrou o jornal O Comércio, que circulou no dia 12 de março de 1958:

"Fatos estão ocorrendo em nossos dias, de âmago, injustiça e, porque não dizer a verdade, de profanação aos nosso mortos. É que a população da Vila Barcelos está seriamente consternada pelo fato real que está ocorrendo em um dos buracos existentes naquele populoso bairro de Cachoeira do Sul.

Terra, coroas, alças de caixões de defuntos e até pedaços de ossos humanos são trazidos de um dos cemitérios de nossa cidade, para entulhar o referido buracão, razão por que o povo está aterrorizado por tal ocorrência, e descabível coragem de nossas atuais autoridades em promover um ato tão desumano, sem, porventura, ter uma consciência mais cristã, ao menos para com nossos antepassados já falecidos.

Até onde, em pleno século XX, a nossa civilização deverá chegar, caro leitor?

Ali, por cúmulo, existe uma barriquinha d'água, onde a maior parte das famílias se abastecem do precioso líquido e que agora, precisamente neste momento, caro leitor, os caminhões da Prefeitura acharam para subterrar o buraco com terras trazidas do cemitério, acompanhadas de todos os apetrechos de caixão de defuntos.

Será que cavando não se encontrará algum dente de ouro? É muito possível!!! Porque ali contém um enorme bazar, tanto de casa funerária como de dentista...

Uma riqueza morta, para um povo de um bairro católico, que não permite que o local de suas residências seja profanado por tão monstruosa realidade - entulhar buracos com terras de cemitério, cuja profanação, iniciada certamente por homens hereges, em plena civilização e que também não deixa de trazer grandes recordações dos tempos idos!

Sejamos, pois, mais humanos e que isto  jamais se repita, principalmente agora que o povo vibra por uma paz espiritual e que também vem apelando clemência a Deus Nosso Senhor para os homens pecadores, "porque eles não sabem o que fazem"! Assim seja.

Um zelador.

A tal obra, que pretendia resolver um problema, pelo descalabro da solução acabou piorando - e muito - a situação! 

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