Pelas páginas do jornal O Commercio, órgão comercial, noticioso e literário fundado em 1.º de janeiro de 1900 por Henrique Möller Filho, é possível reconstituir o cotidiano de Cachoeira, traçando uma interessante cronologia do longo período em que o semanário circulou (janeiro de 1900 a fevereiro de 1966).
Oficinas tipográficas do O Commercio (1922) - MMEL* |
O Commercio não foi o único jornal desse período. Outros tantos surgiram, em sua maioria com pouco tempo de existência, mas é na coleção do Comercinho, como o povo o apelidou, e que conseguiu chegar aos nossos dias preservada em sua quase totalidade, que é possível rememorar com regularidade o tempo. Sua coleção faz parte do Acervo de Imprensa do Arquivo Histórico do Município de Cachoeira do Sul "Carlos Salzano Vieira da Cunha" - AHMCS.
Na primeira edição de janeiro de 1924, que circulou no dia 1.º, a grande notícia foi o regresso do 1.º Corpo da 5.ª Brigada do Centro, comandada pelo tenente-coronel Annibal Lopes Loureiro, intendente do município que havia se licenciado do cargo para lutar na revolução de 1923 ao lado dos seus correligionários do Partido Republicano Rio-Grandense, liderados por Borges de Medeiros. A volta tinha se dado em 23 de dezembro, mas como o jornal circulava apenas nas quartas-feiras, a notícia foi dada na semana seguinte.
Grandes foram os festejos para recepcionar os "bravos" da dita legalidade e o jornal descreveu com detalhes a chegada na Estação Ferroviária, a recepção por autoridades e povo, o acompanhamento do corpo pela Rua 7 de Setembro, os longos e inflamados discursos e o baile organizado por senhoritas e elementos da sociedade no salão do Fórum (antigo Teatro Municipal).
Edifício do Fórum e do Colégio Elementar - extraído do livro O Rio Grande do Sul, de Alfredo R. da Costa (1922) |
Na edição seguinte, que circulou em 9 de janeiro de 1924, o destaque de primeira página foi a Festa da Paz que a cidade promoveu no dia 1.º, com missa campal, batalha de flores, distribuição de gêneros aos necessitados, cinema público e gratuito ao ar livre e um grande baile de gala no Clube Renascença. Naquela mesma edição, nota de destaque para a passagem da administração municipal ao Dr. Annibal Lopes Loureiro pelo seu substituto Francisco Gama. Para assumir o comando da 1.º Corpo Provisório da Brigada do Centro, Annibal Loureiro licenciou-se da intendência, passando a administração municipal ao seu vice, Francisco Fontoura Nogueira da Gama.
No dia 16, a nota de destaque da edição foi a fundação do Centro Republicano de Cachoeira, presidido por Annibal Loureiro e contando em suas fileiras com os grandes nomes dos republicanos locais. No número que circulou uma semana depois, em 23 de janeiro, descrição em detalhes do banquete que foi oferecido por amigos e correligionários, no Bar Cachoeirense, ao coronel Francisco Gama "pelos relevantes serviços prestados a este município".
Bar Cachoeirense - Praça José Bonifácio - extraído do Grande Álbum de Cachoeira (1922), de Benjamin Camozato |
Também em 23 de janeiro, o barítono Andino Abreu foi alvo de notícia sobre sarau que realizou em São Paulo, promovido pela Sociedade de Cultura Artística no Teatro Municipal. Reproduzindo o texto publicado no jornal Estado de São Paulo, O Commercio divulgou os altos elogios feitos ao artista cachoeirense.
A última edição de janeiro de 1924, datada do dia 30, trouxe notícias genéricas e dentre elas a comunicação de eleição da nova diretoria do Gremio Foot-Ball Porto-Alegrense, time bicampeão do Rio Grande do Sul.
Nos anúncios comerciais, destaques para a Casa Augusto Wilhelm, que propagandeava camas de ferro e fogões; para a Oficina de Joias de Ernesto Strohschoen, que vendia óculos, bombas para mate, relógios de algibeira e joias de prata, dentre outros itens.
Casa Augusto Wilhelm - extraído do Grande Álbum de Cachoeira (1922), de Benjamin Camozato |
A Casa Avenida oferecia seda crua e a Casa Funerária Oliveira & Cia. dizia-se a mais barateira. O Atelier de Modas de Helena Lauer avisava estar de mudança para a Rua Moron, 112.
Ateliê de Helena Lauer - extraído do Grande Álbum de Cachoeira (1922), de Benjamin Camozato |
A Casa Viúva José Müller anunciava guerra às formigas e grande sortimento de arados e discos alemães e a Casa Fialho, além de ternos de casimira, tinha recebido estoque dos lança-perfumes Rodo, Rigoletto e Vlan. Calçados de São Paulo eram na Casa Bidone e a famosa Agência Bromberg & Cia. oferecia correias de pelo de camelo, seu depósito permanente de óleos lubrificantes e os afamados automóveis Ford e tratores Fordson.
Escritório da Casa Viúva José Müller - Acervo Ernesto Müller |
O Armazém de Hugo Stringuini avisava ter recebido nozes, amêndoas, avelãs, passas de uva, de figo e de ameixa, além de azeitonas e licores e Haguel Botomé, proprietário da Casa da Bandeira Branca, oferecia à clientela uma surpresa agradável, como se referiu à liquidação geral de seu estoque de fazendas, miudezas e roupas feitas. J. Lima & Cia. pedia à distinta freguesia que visitasse a sua seção de tecidos, armarinhos e miudezas, assim como adquirisse carrapaticida e vermífugo "Sol".
Haguel Botomé e família - extraído do Grande Álbum de Cachoeira (1922), de Benjamin Camozato |
O Engenho Stracke & Cia., no Bairro Rio Branco, dispunha-se a comprar qualquer quantidade de arroz.
João Minssen era agente de seguros e Percilio Bandeira incumbia-se de levantamento de balanços e organização de contabilidade. Medições e divisões de terras era com Angelico da Motta Curto, fotografias com o Atelier Fotográfico de A. Saindenberg - perfeição garantida!
Nota de A. Saidenberg emitida para a Intendência Municipal (1926) - AHMCS |
Leonel Friedrich & Cia. e Benjamin Camozato vendiam locomóveis usadas, Emilio Schlabitz uma trilhadeira e Albino Pohlmann um cofre Wallig. Roberto Petersen tinha oficina de funilaria e Wilhelm & Klafke, sucessores de Carlos Böer, aceitavam e executavam qualquer encomenda de marcenaria e carpintaria.
Os médicos Dr. Scopel, Dr. Marajó de Barros, Dr. José Felix Garcia, Dr. Teclo Lopes Machado e Dr. Manoel Pérez Hervella ofereciam seus préstimos, assim como as parteiras Anna Thürstein, Alma Becher e Leopoldina Ulrich.
Dr. Sylvio Scopel em procedimento cirúrgico - MMEL |
Clínica cirúrgica e laboratório dentário era com Oscar Wild, que curava abscessos, sinusite, fístulas e corrigia anomalias dentárias, prontificando qualquer aparelho protético, além de obturações a ouro, platina, esmalte, cimento e amálgama. O dentista Victor L. Preuss, aprovado em Berlim e com 12 anos de prática, garantia durabilidade e beleza em todos os seus trabalhos.
Dr. Hollanda Cavalcanti, Mario Godoy Ilha, Dr. Glycerio Alves anunciavam-se como advogados.
Dr. Glycerio Alves no interior paulista - MMEL |
As escolas estavam em franca propaganda para atrair alunos para o ano letivo de 1924: Ginásio Rio Branco - internato e externato; Escola Alemã-Brasileira, no Bairro Rio Branco, também oferecia internato e externato, destacando o diretor Pastor H. Dohms que as línguas do ensino eram português e alemão. O Colégio Imaculada Conceição prevenia que as aulas teriam início em 15 de fevereiro, na Rua Saldanha Marinho, 75. O professor reverendo D. A. Chaves avisava que em 30 de janeiro abriria curso regular de ciências e letras, curso especial de línguas e preparatórios em geral.
Irmã Maria Edigna Lehmann - primeira diretora do Colégio Imaculada Conceição (1921 - 1927) - MMEL |
A vida social tinha lugar nos salões do Clube Renascença, da Sociedade Atiradores Concórdia, da Sociedade Italiana Príncipe Umberto e do Clube 7 de Setembro.
Sociedade Atiradores Concórdia - MMEL |
Investimentos, depósitos populares e serviços bancários eram oferecidos n' O Commercio pelo Banco do Brasil, Banco Pelotense e Banco Nacional do Comércio.
No Mercado Público, banca número 7, a novidade eram as uvas geladas, colhidas diariamente.
E janeiro de 1924 foi encerrado pela edição do dia 30, na qual já começavam a aparecer notícias sobre o carnaval de rua que, naquele ano, aconteceria nos primeiros dias do mês de março.
*MMEL - Museu Municipal Edyr Lima
Nenhum comentário:
Postar um comentário