Espaços urbanos

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Ponte do Fandango - foto Robispierre Giuliani

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

O alvorecer de 1925

Cachoeira, janeiro de 1925. A cidade ainda lambia as feridas pela morte do benquisto Dr. Balthazar Patrício de Bem, alvejado mortalmente, em 10 de novembro de 1924, no Barro Vermelho. Seu desaparecimento, além do drama familiar, causou sérios embaraços aos negócios da família e muito especialmente à política. Como escreveu João Neves da Fontoura em suas Memórias, volume I: "Sua morte abriu um claro profundo na sociedade cachoeirense."

João Neves não sentira a morte de Balthazar apenas como a perda de um amigo pelo qual nutria afeição, ou pelo médico que o aconselhava nas questões de sua fraqueza pulmonar, mais do que isto, ficara sozinho na direção política de Cachoeira. O triunvirato, integrado por ele, pelo falecido Balthazar e por Annibal Loureiro, que foi viver em Itaqui, estava desfeito, desmantelando a comissão executiva do Partido Republicano local. O intendente municipal, Francisco Fontoura Nogueira da Gama, de coração frágil, afastava-se seguidamente de suas funções. Balthazar também era o vice. As peças necessitavam ser repostas e o presidente do estado, Borges de Medeiros, precisou movimentá-las antes do esperado.

Os doutores Balthazar de Bem e João Neves da Fontoura - O Rio Grande do Sul (1922)

Política à parte, a cidade seguia registrada nas páginas do jornal O Commercio, que saía todas as quartas-feiras. Chegadas e partidas, aniversários, celebrações de toda ordem, proclames comerciais, sociais e religiosos ocupavam os espaços do órgão comercial, literário e noticioso. 

Nos reclames, destaque para seguros da Companhia Ítalo-Brasileira de Seguros Gerais, cujo agente em Cachoeira era José Cidade Ilha; aos produtos variados da Agência Bromberg & Cia.; ao legítimo sal mossoró distribuído por Conrado Zimmer e ao carrapaticida Ideal, o mais acreditado produto do gênero, oferecido pela Casa Fialho. Roupas, tecidos, aviamentos, chapéus e calçados podiam ser encontrados na Alfaiataria Elegante, de Husek & Motta; na Chapelaria e Alfaitaria Santos, de Bopp & Cia.; na Casa da Bandeira Branca, de Haguel Botomé; na Casa Kraide, de Abud J. Kraide. Se o freguês precisasse de fumo em corda, devia dirigir-se à casa de Camillo J. Ache, na Rua Saldanha Marinho; frutas, couros, cabelo e lã na Barraca de Frutos de José Gomes de Oliveira. O resto que fosse preciso, a Casa Augusto Wilhelm podia oferecer. Para citar apenas alguns...

Casa Fialho - Rua 7 de Setembro, esquina com a atual Dr. Sílvio Scopel - MMEL

Provavelmente casa comercial de Conrado Zimmer - Coleção Ernesto Müller

Interior da Casa Augusto Wilhelm (1922) - Benjamin Camozato

Dentista aprovado em Berlim era Victor L. Preuss, na Travessa Major Ourique n.º 19. Clínica médica era a do Dr. Ricardo D'Elia, formado em academias de Nápoles e Paraguai, com atendimento na Rua 15 de Novembro n.º 22. Ou então aqueles que necessitassem de médico operador e parteiro, a pedida era o Dr. Marajó de Barros, residente no Bairro Rio Branco e com consultório na Farmácia Moron. Também o Dr. José Felix Garcia, conceituado em sua formação, oferecia seus préstimos, além do já conhecido Silvio Scopel. Outros havia, assim como construtores, engenheiros, arquitetos, prestadores do serviço de saneamento e muitos instaladores hidráulicos, afinal, a água chegara para boa parte da cidade em 1921 e as tratativas para ampliação da distribuição e da rede de esgotos encontrariam no ano de 1925 o seu melhor momento, assim como as obras de embelezamento urbano.

Assentamento dos condutos de esgoto na Rua 7 de Setembro - MMEL

Já findando o primeiro mês do ano de 2025, podendo recontar com boa fidelidade, graças à documentação e acervos de imprensa disponíveis, a Cachoeira de 100 anos passados, espero poder seguir relembrando a nossa história com os fatos e documentos que a construíram grande e memorável.


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