Espaços urbanos

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Centro Histórico - foto Catiele Fortes

sábado, 25 de junho de 2011

Saudoso Mercado Público

            O Mercado Público de Cachoeira, presente somente na memória de quem já passou da faixa dos 60 anos de idade, ocupou por várias décadas o coração de nossa principal praça: a José Bonifácio. Por sua causa, ela foi chamada popularmente, por muitos anos, de Praça do Mercado.

Acervo Museu Municipal

            Em 29 de janeiro de 1881, Crescêncio da Silva Santos apresentou à Câmara a sua proposta para construção do mercado ao custo de 22:600$000 (vinte e dois contos e seiscentos mil réis). Tinha como fiador Estêvão Francisco. Proposta aceita, um ano e oito meses depois, no dia 30 de setembro de 1882, o Mercado Público foi entregue às autoridades, passando a concentrar na praça comércio de gêneros e serviços.

Acervo Museu Municipal

            A construção do Mercado Público e a movimentação provocada pela sua existência, passaram a atrair olhares cuidadosos das autoridades para a praça e, por extensão, à Rua 7 de Setembro.
Em 1906 estavam concluídos os trabalhos de arborização iniciados pelo Intendente David Soares de Barcellos e seguidos pelo sucessor Cândido Alves Machado de Freitas. Com o Intendente Isidoro Neves, foram plantadas as paineiras que circundavam a praça, além de jacarandás e outras árvores. Alguns jacarandás ainda sobrevivem na velha praça e as paineiras que adornam o jardim lateral da Escola Estadual de Ensino Fundamental Rio Jacuí, na Rua Major Ouriques, são irmãs das plantadas na praça em 1908!
Logo se juntou ao Mercado Público o coreto para abrigar as bandas municipais em suas retretas, o chamado pavilhão da música. Bares, restaurantes e cinemas passaram a completar o espaço fronteiro ao grande mercado, assim como mictório e cata-vento que acionava uma bomba de água para regar os jardins.
Na década de 1920, com os serviços de saneamento iniciados pelo Intendente Aníbal Loureiro, também o Mercado foi alvo de melhorias. O construtor José Mariné foi contratado para a realização de importantes obras que consistiram na construção de uma fonte pública, um bebedouro para animais, caiação e pintura a óleo das fachadas interna e externa do Mercado, colocação de vidros, construção de doze bancas e de instalações sanitárias para homens e senhoras.
No final da década de 1920 a Praça José Bonifácio foi transformada pela administração João Neves da Fontoura em um dos mais aprazíveis e encantadores locais públicos do Estado.

Acervo Museu Municipal

Mas o Mercado Público, diferentemente do que aconteceu em outras cidades, não resistiu a ideias “modernizadoras” e sucumbiu. Com suas paredes desabaram histórias de pessoas e empresas que oxigenaram a economia cachoeirense e transformaram a cidade em polo comercial.
O jornal O Comércio, edição de 9 de janeiro de 1957, relata:

Coleção O Comércio - acervo Arquivo Histórico

“O velho e tradicional Mercado Público acha-se em agonia, praticamente em seus últimos momentos. (...) segunda-feira próxima terá início o começo do fim do velho e tradicional casarão. A picareta inexorável do operário romperá aquelas antigas paredes, cujo vulto, já em tempos idos, extasiaram os cachoeirenses de então. Por certo não será fácil dizer da alegria e dor que no seu recinto foram vividas. Precisamos considerar que como tudo neste mundo de nosso Deus o hoje velho mercado – ou pardieiro mesmo – já foi novo. E como tal, teve o seu encantamento. Já foi o ponto de convergência das elites. Ponto de mexericos também. E, por isso, ponto de alguma graça e saudosas reminiscências. Com a demolição do velho Mercado Público, lá se vai mais um marco da Cachoeira antiga. O local do atual mercado será convenientemente ajardinado, estando prevista a construção de uma fonte luminosa (...). O material aproveitável da demolição que se processará será empregado na construção do edifício do Quartel dos Bombeiros (...) na Rua Riachuelo.”


As paredes do Quartel dos Bombeiros, ponto de referência da minha infância, guardam as memórias caladas do Mercado...



Vídeo: Quadro Minha Cidade, NT Sul TV Cachoeira.


Um comentário:

  1. O acendedor de Lampiões

    Desde a época do império,
    Paciente, cumprindo o ritual,
    o funcionário da Câmara, pontual
    Atravessa a Praça da Igreja
    Para que a noite seja
    De ruas seguras e vigiadas
    E o funcionário abrindo a escada
    Maneja com calculado primor,
    A querosene e o acendedor,
    Acendendo os lampiões da praça
    e a cada rua que passa
    deixa o rastro de luz e cor...

    Depois a Cachoeira do intendentre
    Isidoro Neves da fontoura,
    Com noites mais acolhedoras
    Era um burgo desenvolvido
    E silencioso e comedido,
    De poste em poste, paciencioso,
    O acendedor Luiz Afonso,
    inaugura as noites; comovido...

    Os lampiões da 15 de novembro
    Pontual, acende-os sem pressa
    E depopis, de travessa em travessa
    Deixa a Rua sete iluminada...
    em seguida na Praça do Mercado
    Aos nove lampiões se dirige
    E os canteiros do jardineiro Rodrigues,
    De luz modesta são banhados...

    E na Estação Ferroviária
    Quem desembarca ou baldeia,
    vê o homem que clareia
    Garantindo o seu salário...
    eE ele cumprindo seu itinerário
    Facilita o acesso ao Caixeiral
    pr'algum baile de natal
    Ou quando a gente avista
    Os membros do Partido Federalista
    Diriguindo-se à reunião pré-eleitoral...

    Na luz dos lampiões de querosene
    Essa Cachoeira antiga caminhou
    e de poste em poste deixou
    Uma centelha da história municipal...
    E amanhecendo em seu ritual
    Por praças, ruas e travessas
    Luiz Afonso, sem pressa
    Apagava os lampiões, pontual...


    de: mariton lara

    Professora,tem algum erro em meu poema? poderia me ajudar?

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