No dia 23 de fevereiro de 2016,
exatamente 50 anos depois, a última edição do jornal O Comércio (1900 – 1966) que circulou no mesmo dia do ano de 1966,
foi entregue para compor a coleção cuidadosamente guardada no acervo de
imprensa do Arquivo Histórico do Município de Cachoeira do Sul.
Última edição d'O Comércio - 23/2/1966 Acervo de Imprensa do Arquivo Histórico |
A doação do último – e provavelmente
o único – exemplar da edição que pôs fim a uma história de 66 anos de
circulação foi feita por Sérgio Moacir da Silva Pacheco, ex-funcionário da
Tipografia do Comércio, e responsável à época pela impressão do jornal.
Sérgio Moacir da Silva Pacheco - último impressor e guardião da última edição - Fotos: Arquivo Histórico |
O Commercio, órgão comercial, noticioso e
literário fundado em 1º de janeiro de 1900 por Henrique Möller Filho, guarda
algumas curiosidades: nasceu bilíngüe, ou seja, trazia anúncios e alguns textos também
em alemão (o que indicava a forte presença germânica na cidade) e era
distribuído aos leitores já na terça-feira, embora trouxesse no seu cabeçalho a
indicação de que saía às quartas-feiras. Sobre isto Paulo de Gouvêa escreveu:
“O
Comércio, que todo mundo chamava de Comercinho e tinha a inédita peculiaridade
de sair terça-feira com data de quarta. Por que essa anomalia, nunca ninguém
pôde saber. Em todo o caso, graças a ela, nós, os cachoeirenses, desfrutávamos
do privilégio sem igual de ter o único jornal no mundo que era publicado na
véspera.”
O Commercio registrava em cada edição as
chegadas e partidas dos cachoeirenses, os aniversários, as notícias dos
distritos e abria espaço para articulistas, muitas vezes escondidos sob
pseudônimos. E, dentre eles, uma mulher: Cândida Fortes (depois Brandão), com
publicação já na primeira edição do jornal, quando usou o pseudônimo Canolifor (iniciais de seu nome de
solteira – Cândida de Oliveira Fortes).
Volume das edições d'O Commercio do ano 1900 - Acervo de Imprensa do Arquivo Histórico |
Para a impressão do jornal
Henrique Möller Filho contava com o auxílio dos seus irmãos Guilherme Antônio (redator)
e João Antônio (tipógrafo). Henrique Filho faleceu em 1941, passando a direção
do jornal aos irmãos. Em 1966, quando do encerramento das atividades, eram
diretores Carlos Möller Sobrinho e Edgar Pohlmann.
A coleção hoje resguardada e
disponibilizada pelo Arquivo Histórico foi reunida, organizada e depois cuidadosamente encadernada por Carlos Möller Sobrinho. Depois de seu falecimento, por decisão de sua esposa e filhos, a coleção foi doada à
Biblioteca Pública Municipal; depois passou a integrar o acervo da Câmara
Municipal, sendo franqueada à pesquisa de interessados. Por iniciativa do
vereador Henrique José Möller, filho do fundador do jornal, a coleção foi repassada
ao Museu Municipal de Cachoeira do Sul, de onde, por questões técnicas, foi
finalmente repassada para o Arquivo Histórico do Município, onde já estavam as
coleções dos demais jornais cachoeirenses.
66 anos de circulação é uma
marca. Cachoeira teve diversos jornais, de diferentes ideários e propósitos, a
maioria de vida efêmera. Atravessar mais da metade do século XX, notadamente
época de convulsões sociais, econômicas e culturais, faz d’O Commercio um jornal riquíssimo
no conteúdo, na forma de apresentação e na interação que manteve com a
comunidade, evidenciada no apelido carinhoso que carregava: O Comercinho.
Créditos das fotos: Neiva Ester Corrêa Köhler e Maria Lúcia Mór Castagnino, do Arquivo Histórico
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