Um alteroso prédio na quadra em que a
Júlio encontra a Saldanha chama a atenção pela arquitetura reveladora de um
tempo em que técnica construtiva e arte davam as mãos com maior facilidade.
Prédio de 1918 - antigo Armazém de Arlindo Leal - COMPAHC |
Trata-se do armazém e depósito de arroz mandado
construir por Arlindo de Freitas Leal em 1918. O local, próximo da gare da
Estação Ferroviária, favorecia tremendamente o negócio.
Armazém de Arlindo Leal - Publicação do Banco da Província - 1925-1927 - Acervo Arquivo Histórico |
O projeto de construção do armazém foi
entregue ao engenheiro holandês Chrétien Hoogenstraaten, sócio de Arlindo Leal
em uma olaria aberta no ano de 1917 para o fabrico de telhas e tijolos. Este
empreendimento foi vultoso e para levá-lo adiante os engenheiros e sócios
arrendaram de Roberto Danzmann, pelo prazo de 10 anos, uma parte de campo
situada na Várzea de Nossa Senhora, proximidades da cidade. Em meados daquele ano,
trouxeram de Buenos Aires uma locomóvel Hornsby, da força de 30 cavalos, máquinas
para fabricação de ladrilhos e telhas e amassadores com cortadores. Os
equipamentos permitiram uma fabricação excepcional de telhas e tijolos por dia.
Arlindo Leal, que também era engenheiro
civil, deve ter chegado a Cachoeira nos primeiros anos do século XX. Seu nome
aparece na nominata do Conselho Municipal (corresponde hoje à Câmara de Vereadores) no período 1908-1912. Era membro do Partido Republicano Rio-Grandense e
protagonizou brigas políticas acirradas com os Neves da Fontoura. Foi também deputado estadual. Dono de grande
fortuna, Arlindo Leal foi um dos maiores produtores de arroz daqueles tempos e
grande criador de gado. Sua importância na cidade era tanta que foi um dos
articuladores para criação da Praça do Comércio, de que foi o primeiro
presidente em 1917.
Em 1908, diante da ameaça de desabamento
do Teatro Municipal, ele foi um dos engenheiros a emitir laudo técnico recomendando
o seu fechamento. Depois do sinistro, juntamente com abalizados engenheiros da
capital, fez uma pormenorizada análise da situação do prédio que se localizava
na Praça da Conceição (atual Dr. Balthazar de Bem).
Mas quem era o engenheiro holandês
construtor do armazém de Arlindo Leal? Como veio parar em Cachoeira?
Dr. Chrétien Hoogenstraaten tinha um
currículo extenso. Na Holanda, trabalhou numa companhia petrolífera que o
enviou para as Índias Inglesas. Sua vinda para o sul do Brasil foi com a missão
de fazer sondagens sobre a existência de poços de petróleo. Com este propósito
a mais, Chrétien deve ter visto possibilidade em Cachoeira pela grande onda de
progresso que se fazia sentir na cidade naquelas primeiras décadas dos anos 1900. Em 1916, com o colega cachoeirense
Jorge Hölzel, estabeleceu um escritório técnico de engenharia na Rua 7 de
Setembro. Na propaganda de seus serviços diziam: “Aceita-se construção
qualquer, adotando sistema e estilo moderno. Projetos, orçamentos e cálculos de
arquitetura, agrimensura, cimento armado, exploração de minas, hidráulica.”
Em seu currículo consta que havia sido
professor de Belas Artes da Universidade de São Paulo e de desenho no Colégio
Júlio de Castilhos, de Porto Alegre. Em Cachoeira, além do armazém de Arlindo
Leal, fez as plantas do chafariz da Hidráulica Municipal (1921) e da Igreja
Metodista original. Em Porto Alegre, entre 1925 e 1928, construiu o Instituto
Parobé e foi professor da Escola de Engenharia, tendo publicado na revista da
instituição 24 trabalhos sobre projetos arquitetônicos e construções rurais, sendo
considerado um desenhista refinado, segundo Günter Weimer.
20/9/1921 - inauguração da Hidráulica Municipal, vendo-se o chafariz projetado por Chrétien Hoogenstraaten à direita. Abaixo a Igreja Metodista original - Fototeca Museu Municipal |
O alteroso prédio que foi depósito de arroz de Arlindo Leal é uma destas dignas edificações que contam a nossa história, portanto plenas de passado, presente e futuro.
Observação: apesar da importância destes dois engenheiros, Arlindo Leal e Chrétien Hoogenstraaten, não há imagem disponível de ambos.
Observação: apesar da importância destes dois engenheiros, Arlindo Leal e Chrétien Hoogenstraaten, não há imagem disponível de ambos.
Uma pena não ter a foto de Arlindo Leal. Vou ver se a neta dele possui alguma foto dele.
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