No dia 7 de março
do ano de 1883, os habitantes da Cidade da Cachoeira ouviram pela primeira vez
o apito do trem que inaugurou a estação local. Não há informação sobre a hora nem quem foram os passageiros da linha Porto Alegre – Uruguaiana que fizeram a viagem
naquele dia.
O historiador
Aurélio Porto registrou que em 13 de fevereiro foi nomeada uma comissão de
pessoas para organizarem festas por ocasião da inauguração da estrada de ferro.
Como não há jornais disponíveis daquela época, fica-se a imaginar a alegria dos
cachoeirenses que se postaram pelo caminho do trem a levantar chapéus e lenços
em regozijo da novidade!
Mas a inauguração
foi confirmada pelo jornal A Federação, de Porto Alegre, em sua edição de 7 de
março de 1884, exatos 12 meses depois:
“Foi a 7 de março de 1883 que se
inaugurou o primeiro trecho, de 148 quilômetros, da Estrada de Ferro de Porto
Alegre a Uruguaiana, entre a margem do rio Taquari, ponto inicial, e a cidade
da Cachoeira. Há um ano, pois, que acha-se estabelecida a rápida comunicação
pela via férrea e, durante esse curto período, foram entregues ao tráfego mais
trinta e dois quilômetros até o Jacuí. A linha atualmente abrange 180
quilômetros em tráfego.”
Uma das mais antigas fotos da Estação de Cachoeira - Museu Municipal |
O certo é que a
cidade da Cachoeira mudou completamente depois que o trem chegou à estação. A gare e todo o complexo demarcaram a zona alta e a zona
baixa da cidade, definindo que acima da estação era o “alto”, então com menor índice
populacional. Na parte de baixo, a zona urbana, com seu casario, comércio,
atrações e serviços. E, naturalmente, em razão da facilidade do transporte e
escoamento da produção, o entorno da estação transformou-se, pouco a pouco, em
um espaço de grandes empreendimentos industriais, comerciais e de serviços,
especialmente com engenhos de arroz.
Descarregamento de máquinas e equipamentos - Museu Municipal |
Gare movimentada - Museu Municipal |
Largo da Estação - Museu Municipal |
Até hoje grandes construções lembram
aqueles tempos, testemunhas de uma história de pujança e oportunidades.
O largo da Estação entre o final de 1930 e início de 1940 - Museu Municipal |
No entanto, as
facilidades da ferrovia passaram a ser ofuscadas pela expansão e
favorecimento do transporte rodoviário. A partir da década de 1950, com maior
evidência, os cachoeirenses começaram a se incomodar com o trajeto do trem
dentro da cidade e os imbróglios que causava, parando trânsito, impedindo
passagens. A imprensa da época relata com certa frequência movimentos para
desativar a estação, ou transferi-la do largo que ocupava há décadas.
A Estação em um de seus últimos registros - Coleção Claiton Nazar |
Trem atravessando a Rua Júlio de Castilhos - Museu Municipal |
A modernidade e a
ânsia de acesso livre entre zona baixa e zona alta decretaram a desobstrução da
Rua Sete, liberando-a com a derrubada da Estação e franqueando o acesso à Rua David Barcellos. O apito do trem, antes
motivo de novidades e de expectativas, tornou-se incômodo.
Reuniram-se
técnicos da Prefeitura e especialistas vindos de fora. A velha estação estava
tomada de cupins, segundo afirmavam, imprestável para obras de recuperação.
Decretaram a sua demolição em 1975, levando com ela uma página de 90 anos de chegadas e partidas, de muitas histórias
vividas e contadas.
Começo da demolição - Acervo Marô V. da C. Silva |
Remoção dos trilhos - Museu Municipal |
Fecharam a velha estação ao tráfego de trens em 1973 e construíram outra, moderna, longe do centro,
sem glamour e sem história. Durou pouco mais de 20 anos, sucumbindo junto com o
transporte ferroviário de passageiros no país.
Segunda Estação - Museu Municipal |
A Cachoeira
bicentenária pelo menos pode relembrar pela memória e registros em documentos, objetos e fotos os tempos em que, altiva e progressista, dispunha conjuntamente de transporte hidroviário, ferroviário e rodoviário... Mas ainda resta uma esperança: a Estação Ferreira, integrante da linha, segue a desafiar o tempo, pedindo socorro! Salvá-la é imperativo para redimir o pecado da demolição da linda Estação Cachoeira.
Que maravilha - e que fotos Mirian, não conhecia muitas delas... estou encantada!
ResponderExcluirSão lindas, né Marô? Fototeca do Museu.
ExcluirParabéns Pela Postagem Ou Um Ducomentario Achei Muinto Lindo Show
ResponderExcluirParabéns felicidades nossa cidade capital do arroz 👍
ResponderExcluirA malha ferroviária do RS é gigante, que ótimo seria existir esforços da sociedade para que seja utilizada para transporte de passageiros novamente e não apenas cargas, seria um resgate lindo assim como recuperar construções antigas. Identifiquei o prédio de três andares logo atrás da locomotiva. Parabéns pelo Blog, passo horas lendo pegando referência de um link ou outro compartilhado aqui. Forte abraço!
ResponderExcluirObrigada pela leitura e apreciação, Diego!
ExcluirMeu trisavo, Francisco Negruni ( Francesco Negroni) teve um restaurante em Cachoeira, pelos relatos era na estação ferroviária, porém encontrei o nascimento de uma filha dele, em Cachoeira, as 1879, não sei se nesta época já havia a estação.
ResponderExcluirAlaor, então teu trisavô já vivia aqui antes da estação, que é de janeiro de 1883. Abraço.
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