Espaços urbanos

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Ponte do Fandango - foto Robispierre Giuliani

domingo, 26 de março de 2023

Série Lojas do Passado: Livraria e Bazar Krahe

Atestando o excelente cenário econômico e cultural de Cachoeira que se desenhava com os avanços da produção e beneficiamento do arroz, abriu as portas, em agosto de 1906, a Livraria de Martin Krahe, situada na esquina da Rua 7 de Setembro com a então Travessa 24 de Maio. O estabelecimento oferecia aos fregueses todo sortimento de publicações, livros em branco, jornais e revistas ilustradas de moda, mantendo um bazar de miudezas, constante de objetos de adorno e finíssimos artigos de couro.

Em 1907, ampliou a oferta de produtos, passando a vender pianos da marca Rachals & Cia., fabricados em Hamburgo, na Alemanha, e harmônios de diversos preços. No carnaval desse mesmo ano, os foliões foram atraídos para comprar confete, serpentinas, bisnagas, lança-perfumes, máscaras, narizes e barbas para os festejos de Momo. Foi um sucesso!

No ano seguinte, o bazar inovou. Mandou fabricar na Europa louças estampando imagens coloridas de Cachoeira. Copos, vasos, taças e cálices foram produzidos. O jornal Rio Grande, propagandeando a novidade, publicou em sua edição do dia 9 de abril que tinha recebido do Bazar Krahe "uma jarra de vidro com vista da Rua 7 de Setembro, trabalhada em cores". Os itens eram excelentes suvenires para serem presenteados a visitantes e mesmo para comporem as mesas finas da sociedade cachoeirense. Terá sobrado alguma peça desta louçaria que estampava a cidade da época?

A partir de 1912, houve mudança da razão social da livraria e bazar, passando a se apresentar como Casa Filial de Krahe & Cia. Na foto abaixo, na verdade um cartão-postal de uma série que pode ser atribuída a Benjamin Camozato, vê-se o prédio da Livraria e Bazar com o letreiro "Casa Filial de Krahe & Cia." na parte superior do frontão. Na lateral, "Livraria, papelaria e bazar".

- Fototeca do Museu Municipal

Outras imagens do local - Fototeca do Museu Municipal

Em 1913, a novidade anunciada na imprensa era que o estabelecimento ofertava artigos para fotografia, "esporte" que estava se popularizando na cidade. E, em julho daquele ano, a vitrine do bazar serviu para expor a planta da Escola Brasileira-Alemã prestes a ser construída no Bairro Rio Branco. Em notícia no Rio Grande, edição do dia 27, foi veiculado o comentário de que a planta anunciava a obra de "um belo edifício, tendo dois andares, de estilo moderno e que vai embelezar a cidade nova. O primeiro andar é destinado às aulas, o segundo a dormitórios, quartos, salão para festas, etc. A referida planta foi feita pelo arquiteto Schubert*, aqui residente." O edifício em questão é o que se encontra atrás do Templo Martim Lutero, onde funcionou a escola a partir de 13 de março de 1914. A "cidade nova" referida na notícia era como o jornal e de resto os moradores da cidade estavam se referindo ao novo Bairro Rio Branco, o primeiro planejado de nossa história e que foi aberto em 1912.

Escola Alemã-Brasileira no dia da inauguração - 1913
- Fototeca do Museu Municipal

E a moda de expor projetos arquitetônicos pegou. Em 1920, "na vitrine da Filial Krahe & Cia., esteve exposta, durante alguns dias, a planta do vasto e belo edifício que a filial do Banco Pelotense vai mandar construir à Rua 7 de Setembro, esquina da Rua Venâncio Aires (atual Presidente Vargas), planta confeccionada pelo engenheiro construtor Dr. Santiago Borba, e que foi muito apreciada", conforme noticiou o jornal O Commercio, de 7 de abril daquele ano. Este projeto, na verdade, era de autoria do arquiteto Manoel Itaqui, executado pelo construtor Santiago Borba. O prédio do extinto Banco Pelotense hoje abriga o Banrisul e está retomando a sua imponência graças ao processo de restauro em curso.

A Livraria e Bazar Krahe seguiu em funcionamento pelo menos até a década de 1930. Mais tarde, o ponto passou a ser explorado com o mesmo ramo pelo médico Eurico Wilhelm, responsável pela construção de novo prédio no local. Depois o endereço passou a sediar a ainda lembrada farmácia do Laurentino, por um bom tempo a Loja Beck's e hoje abriga agência do SICOOB.

O local ao tempo em que abrigava loja de roupas 
- Foto Claiton Nazar

*Franz Schubert, 

2 comentários:

  1. Beleza! Eu lembro que ali, antes do "Seu Laurentino" se instalar, sua farmácia era onde hoje é a Galeria Honorato, ficou por uns tempos a sede do PTB, tinha uma enorme foto do Getúlio Vargas, e nós, gurizada, passávamos ali e gritávamos "PTB lava os pé pra não fedê!". E saíamos correndo! rsrsrsrs

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  2. Mico, disto não lembro. Excelente recordação! Vou robustecendo as informações sobre o endereço e futuramente pretendo retomar o assunto. Abraço.

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