Espaços urbanos

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Temporal no Centro Histórico - foto Francisco Nöller

domingo, 26 de novembro de 2017

Série Empreendedores do Passado: Otto Mernak

A Série Empreendedores do Passado inaugura com o alemão Otto Mernak, natural de Chemnitz, na Saxônia, e que chegou em 1903 ao Rio Grande do Sul, fixando-se em São Leopoldo. Em 1912 veio para Cachoeira, onde abriu oficina mecânica e fundição em um galpão defronte à Estação Ferroviária.


Otto Mernak com a esposa Maria e os filhos Curt, Ernesto e Rosinha

A oficina de Otto foi convenientemente instalada na região que no início do século XX podia ser considerada a zona industrial da cidade, que era justamente a que rodeava a Estação. Seu negócio não ficou isolado, mas em posição estratégica que lhe permitia o convívio com engenhos de arroz e outros empreendimentos que se serviam da ferrovia para recebimento e escoamento de mercadorias. E poderiam lhe oferecer muitos serviços... 

Estação Ferroviária cercada pelos engenhos de arroz - fototeca Museu Municipal

Com trabalho constante e esforçado, tornou-se um dos mais bem sucedidos industriais de Cachoeira e a empresa fundada por ele, a Mernak S.A., chegou a ser a maior fabricante de locomóveis e caldeiras da América do Sul, abastecendo o mercado interno e externo.

Locomóvel em fotografia de janeiro de 1952 - Acervo Família Mernak

Uma matéria publicada no jornal O Commercio, de 25 de junho de 1919, dá a dimensão do quanto “o operoso industrialista Otto Mernak” estava fazendo história em seu ofício:

"A convite do operoso industrialista, Sr. Otto Mernak, fomos (…) apreciar o trabalho de fundição de ferro na bem montada oficina estabelecida nas imediações da estação ferroviária.

Cartão da Oficina Mecânica e Fundição de Otto Mernak
- Acervo Família Mernak

O Sr. Otto Mernak aqui chegou em setembro de 1912, começando uma oficina mecânica e de fundição, em proporções modestas, que era localizada num armazém de tábuas.
        
Ultimamente, porém, a casa tornou-se insuficiente para conter ampliações que a crescente afluência de trabalho estava a exigir, e o Sr. Mernak tomou e executou a resolução de construir um prédio de material, de 35 metros de comprimento por 10,60 de largura, no qual funcionam, há pouco mais de um mês, as novas e aumentadas oficinas.

Oficinas de Otto Mernak (1922)
- Grande Álbum de Cachoeira, de Benjamin Camozato

- Podemos fazer tudo o que concerne ao ramo, disse-nos o Sr. Mernak – e, se não fora a escassez atual do ferro em lâminas, até locomotivas para a Viação Férrea poderíamos construir.

Vimos bombas para empresas arrozeiras e peças avulsas para as mesmas (curvas, etc.) prontificadas na fundição, peças novas para motores e, no galpão, trilhadeiras e locomóveis compostas e a compor.

Interior da oficina mecânica e fundição - Arquivo Família Mernak

22 operários exercem ali a sua atividade, sob a direção dos Srs. Otto Mernak e Leopoldo Dill, sendo que este último entrou recentemente a fazer parte da direção e é interessado na indústria, como sócio.

Uma locomóvel de oito cavalos trabalha durante o dia inteiro, fornecendo força motriz às máquinas e acionando também um dínamo que fornece luz elétrica ao estabelecimento.

Dentro da oficina existe um compartimento especial para a confecção de modelos de madeira destinados aos trabalhos de fundição, no qual trabalham, ininterruptamente, dois hábeis marceneiros.

O prédio, não obstante sua amplitude, é construído de modo a poder facilmente sofrer algumas ampliações, se o futuro torná-las necessárias.

A fundição atual é, decerto, um belo resultado do esforço do Sr. Otto Mernak, um trabalhador de rija têmpera e que há de olhar com íntima satisfação para a sua obra."

A matéria do jornal demonstra a pujança do negócio de Otto Mernak, especialmente em tempos recém-saídos da I Grande Guerra, fator indiscutível de inibição dos empreendimentos.

Vencida a Primeira Grande Guerra, Mernak continuou a expansão da sua indústria até que a morte o colheu em uma viagem de passeio à Alemanha no dia 23 de junho de 1935. O vínculo estabelecido com Cachoeira não se dissipou com a morte. Tempos depois os seus despojos foram trazidos para a cidade que o acolheu e repousam no Cemitério Municipal em imponente túmulo.

Cemitério Municipal - 1955 - Acervo Família Mernak

12 comentários:

  1. Muito bom Mirian! Naquela época era permitido que as pessoas trabalhassem.

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    1. Costumo dizer, Suzana, que o Brasil é o único país do mundo que leva a origem da palavra trabalho ao pé da letra, ou seja, como instrumento de castigo. Abraço.

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  2. Parabéns, Mirian; há muito tempo queria saber sobre Otto Mernak. Vi, certa vez, um locomóvel Mernak no interior do Amazonas - 1.979.

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    1. Obrigada, Lecino. Qualquer dia contarei outras novidades.
      Abraço.

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  3. Prezada Mirian, parabéns pela publicação e conservação de nossa História. Estou escrevendo dissertação de mestrado cujo tema é o desenvolvimento de Cachoeira do Sul, ou o abandono dele...

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  4. Tive a satisfação de trabalhar nesta Empresa "Mernak S.A." do ano de 1983 até 1991 como Desenhista. O primeiro emprego e com certeza o que mais me deu satisfação, não pelo salário, que até era pouco, mas pela equipe unida que ali trabalhava, saudades daqueles bons tempos!!!

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  5. Parabéns Mirian, lindo trabalho que tens feito pelo municpio. Uma dúvida que ainda tenho são de como legítimos impérios como esse e outros de nossa cidade ruíram?
    Obrigado,
    Leandro

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  6. Obrigado por publicar essa história, minha família produz arroz irrigado e temos algumas bombas centrífugas da Mernak, que bela história de trabalho dessa família, talvez naquela época podiam trabalhar sem tanta burocracia como temos hoje.

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  7. Acabei de encontrar uma caldeira da marca aqui no Paraguai...de 1962...

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  8. tenho uma faca que passou de geraçao por gereçao da minha familia que esta escrito mernak s a e aparenta ser de prata alguem sabe mais sobre elas ?

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    1. Talvez seja um objeto usado como lembrança da empresa, pois não me consta que trabalhassem com cutelaria.

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  9. Feliz de saber um pouco mais da história da Mernak S.A. Leopoldo Dill era meu avô, mas não cheguei a conhecê-lo, nasci aproximadamente 2 anos após ele falecer. Sempre escutei algumas histórias contadas por minha mãe (Helma Dill Piechottka) e não entendia por que chamavam de "Oficina"... Obrigada, Miriam, por contar um pouquinho mais sobre a história da minha família!

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