Todos nós ouvimos, em algum momento de nossas vidas, relatos ou histórias sobre a famosa enchente de 1941. Pessoas ilhadas, famílias refugiadas em sótãos e telhados, lavouras submersas, destruição e miséria, fome, frio e medo. Mas o que boa parcela de nós jamais pensou é que a história se repetiria e que os eventos fossem vir maiores, mais dramáticos e devastadores.
83 anos depois experimentamos a dor e a impotência diante da fúria dos elementos da natureza, deixando a grande enchente de 1941 na vice-liderança dos maiores cataclismos vividos no Rio Grande do Sul!
Para avaliarmos melhor os dois eventos, o de 1941 e o de 2024, ambos acontecidos exatamente no mesmo período, entre final de abril e princípios de maio, precisamos entender as diferenças que separam o mundo da década de 1940 e o deste primeiro quarto do século XXI.
Em 1941, não havia toda a tecnologia hoje disponível, tampouco as medidas de verificação do evento em si e de suas consequências se aproximam do que atualmente se tem. E, principalmente, a comunicação instantânea que caracteriza este século dá outra dimensão à tragédia, permitindo que as pessoas a acompanhem em tempo real e sejam impactadas imediatamente pelo que veem. Isto explica as reações de quase todo o país e até do exterior no enfrentamento da catástrofe e no auxílio aos flagelados.
As verificações dos impactos da tragédia climática são facilitadas hoje pelos avanços tecnológicos, assim como os recursos empregados no resgate, salvamento e apoio às vítimas, sejam pessoas ou animais. Hoje toda vida importa, o que não deixa de ser uma contradição, tendo em vista que a sociedade moderna não dá a mesma atenção aos reclames da natureza.
Na enchente de 1941, por exemplo, quando a cheia se encontrava em seu auge, uma comissão de cidadãos cachoeirenses se lançou num barco pelas águas do Jacuí para verificar os impactos. Os cavalheiros subiram na embarcação com seus trajes costumeiros, sem nenhum tipo de proteção! Mesmo os voluntários de hoje, grande parte oriunda da sociedade civil, porta coletes salva-vidas e trafega pelas cidades inundadas com o mínimo de proteção.
Comissão de verificação da enchente em Cachoeira em 1941, vendo-se, à frente, Floriano Neves da Fontoura (3) e o prefeito Cyro da Cunha Carlos (4) - MMEL |
Outra diferença grande entre 1941 e 2024 são os alertas meteorológicos, feitos com a necessária antecedência em razão dos modelos utilizados pelas agências de verificação e o grau bem maior de precisão.
Os impactos de uma época e outra, apesar dos grandes destaques que a imprensa deu ao primeiro evento, com registros fotográficos abundantes, em 2024 são muito abrangentes, pois nenhuma região ficou sem o monitoramento dos efeitos da grande enchente. Drones, aviões, helicópteros, satélites, todo aparato disponível se volta para o estado calamitoso do Rio Grande do Sul. A ajuda humanitária, em razão do grande poder da comunicação e do uso das redes sociais, vem de todos os lados e procura atender ao que é essencial.
Nenhum de nós, testemunhas da grande cheia de 2024, pode dizer que não foi avisado das mudanças climáticas drásticas que passamos a sofrer em razão do desrespeito à natureza, materializada na forma de desmatamentos desmedidos, ocupação de áreas sem prévia verificação de impacto, exploração do solo de forma predatória e outras causas advindas do uso irracional dos recursos naturais.
O saldo advindo da catástrofe de 2024 ainda não pôde ser integralmente medido, mas submeterá todo o estado a uma cota substancial de sacrifícios e, principalmente, de mudança de atitude.
A enchente no Engenho Central - MMEL |
O cais da Rua Moron com depósitos submersos - 1941 - MMEL |
Flagelados da enchente de 1941 - Coleção Emília X. Gaspary - MMEL |
Porto de Cachoeira - 1941 - Coleção Armando Fontanari |
Enchente - abril de 1941 - Coleção Emília X. Gaspary - MMEL |
Série de fotos da enchente de 1941 - Coleção Achylles Figueiredo - MMEL |
Ponte do Fandango em 5/5/2024 - foto Ângelo Netto |
Registros da enchente em 5/5/2024 - fotos Ângelo Netto |
BR 153 - foto O Correio |
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